terça-feira, 11 de outubro de 2016

As primeiras associações de Proteção dos Animais



As primeiras associações de Proteção dos Animais


A primeira associação criada em Portugal com o fim de defender da malvadez humana “os pobres seres, zoologicamente a nós inferiores” terá sido criada por “um conjunto de cidadãos portugueses e ingleses”, em Lisboa, no ano de 1875, com a designação de “Sociedade Protetora dos Animais”.

Três anos mais tarde, em 1878, surgiu na cidade do Porto uma associação congénere com a denominação de Sociedade Protetora dos Animais do Porto (SPAP), a qual durante alguns anos foi dirigida por um açoriano.

De acordo com Alice Moderno, a Sociedade Protetora dos Animais do Porto, presidida pelo micaelense Dr. José Nunes da Ponte, em 1913, que realizava um trabalho, “que tanto honra e levanta o nível moral da cidade onde se expande e progride”, devia servir de incentivo e exemplo aos micaelenses que dois anos antes haviam tomado nas suas mãos a criação da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais.

No ano referido, a SPAP disponha de uma receita de 1505 escudos, na moeda portuguesa, ou sejam 1881 escudos na moeda insulana, o que lhe permitia “proteger eficazmente os animais, mantendo fontenários, distribuindo prémios, custeando um posto veterinário, tendo empregados remunerados, escritório com telefone, que prontamente comunica com todos os pontos da cidade, etc. etc.”

Nos Açores, embora a ideia da criação de uma associação de proteção dos animais seja mais antiga e as primeiras reuniões tenham ocorrido em 1908, a primeira organização que se formou foi a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (SMPA), com estatutos elaborados tendo por base os da Sociedade Protetora dos Animais, de Lisboa.

Legalizada a SMPA, a 13 de Setembro de 1911, foram seus fundadores: Caetano Moniz de Vasconcelos (governador civil), Alfredo da Câmara, Amâncio Rocha, Augusto da Silva Moreira, Fernando de Alcântara, Francisco Soares Silva, José Inácio de Sousa, Joviano Lopes, Manuel Botelho de Sousa, Manuel Resende Carreiro, Marquês de Jácome Correia, Miguel de Sousa Alvim, Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa.
No ano em que foram aprovados os estatutos da SMPA, surgiu na ilha Terceira, com o fim de “proteger dos maus tratos todos os animais não considerados daninhos… e animar o exercício da caridade para com os animais, estabelecendo para isso prémios e recompensas sempre que permitam os recursos da sociedade”, a SPAAH - Sociedade Protetora dos Animais de Angra do Heroísmo.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31052, 11 de outubro de 2016, p.16)

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

BIBLIOTECA ESCOLAR DE SANTA CLARA


BIBLIOTECA ESCOLAR DE SANTA CLARA

No dia 9 de julho de 1909, foi inaugurada na escola oficial do sexo feminino, de Santa Clara, uma biblioteca escolar.
Com 800 espécies, entre livros e folhetos, à data da inauguração, a biblioteca escolar, iniciativa de Maria Evelina de Sousa, foi a primeira instalada no Círculo Escolar de Ponta Delgada e uma das primeiras a nível do país.
Dos oradores que usaram da palavra na sessão de inauguração, para além de Maria Evelina de Sousa, destacamos João Melo Abreu, presidente da Comissão de Beneméritos e Ensino da freguesia de São Pedro, que foi um dos grandes beneméritos da mencionada biblioteca.

Fonte: Memórias do Ensino Primário no Concelho de Ponta Delgada 1772-1939, de Rubens de Almeida Pavão

Presidente do Núcleo Escolar de Ponta Delgada


A 4 de janeiro de 1923 na Escola de São José, localizada no Campo de São Francisco, foi fundado o Núcleo Escolar de Ponta Delgada tendo Maria Evelina de Sousa sido eleita sua presidente. Os restantes membros da direção eram: Adelino Pimentel da Costa, tesoureiro e Jaime Cravinho, secretário. Para suplentes foram eleitos os docentes, Virgínia Lino da Câmara, Eduardo Soares e José Tavares de Resendes.

Fonte: Memórias do Ensino Primário no Concelho de Ponta Delgada 1772-1939, de Rubens de Almeida Pavão

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Por proposta do BE autarquia recupera jazigo de Alice Moderno e de Maria Evelina de Sousa em homenagem ao seu legado

Por proposta do BE autarquia recupera jazigo de Alice Moderno e de Maria Evelina de Sousa em homenagem ao seu legado



28 JUNHO 2013

Por proposta do BE aprovada ontem em reunião da Assembleia Municipal de Ponta Delgada, a autarquia vai proceder à recuperação do jazigo de Alice Moderno, no Cemitério de São Joaquim, e acrescentar o nome de Maria Evelina de Sousa à placa identificativa, ajudando assim a preservar e dignificar a intervenção cívica e a coragem destas mulheres, pioneiras na luta pelos direitos das mulheres, e pelo respeito pelos animais, entre outras conquistas.
Recomendação apresentada pela deputada municipal do BE, Vera Pires:
Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa, escritoras, pedagogas e verdadeiras activistas, desenvolveram ao longo de toda a vida intensa intervenção cívica em Ponta Delgada.
Admiradoras de Antero, foi ao lado de Teófilo Braga e de Manuel de Arriaga que fizeram parte do movimento republicano, e com Ana de Castro Osório e Olga Morais Sarmento, entre outras, contribuíram para o surgimento do movimento feminista em Portugal.
Defenderam o direito das mulheres à educação e ao trabalho e colaboraram em campanhas pelo divórcio e pelo sufrágio universal.
A defesa da democratização da educação fez de Alice Moderno a primeira mulher a frequentar o Liceu de Ponta Delgada (hoje Escola Secundária Antero de Quental). Maria Evelina é a fundadora da primeira biblioteca anexa a uma escola primária (a de Santa Clara, que dirigia) e Alice Moderno a autora do hino à escola micaelense. Ambas fundaram, dirigiram e colaboraram em diversos periódicos onde abordavam as temáticas dos direitos civis, da justiça social, da emancipação da mulher e dos direitos dos animais.
A preocupação com o bem-estar e a protecção animal, aliada à sua constante actividade de intervenção cívica levou-as a fundar a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais (SMPA).
Em testamento, Alice Moderno destinou parte dos seus bens à construção de um hospital veterinário público que pudesse cuidar gratuitamente dos animais necessitados. O Hospital Veterinário Alice Moderno foi construído em 1948, dois anos após a sua morte, tendo sido dirigido pela SMPA. Com o desaparecimento gradual da SMPA, a manutenção e investimento no hospital foram decrescendo.
A arrematação dos bens de Alice Moderno tornou possível a criação da Casa do Gaiato, nas Capelas, garantindo ao concelho de Ponta Delgada um local de abrigo e acolhimento a jovens privados do seio familiar.
Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa morreram com exactamente 8 dias de diferença, em 1946. As duas mulheres, que viveram dedicadas a contribuir para uma sociedade mais justa e igual, estão sepultadas no Cemitério de S. Joaquim de Ponta Delgada, num jazigo mandado construir por Alice Moderno ainda em vida, que apresenta agora um estado de grande degradação.
A intervenção cívica e a coragem destas mulheres, pioneiras na luta pelas causas mencionadas, merecem ser conhecidas e divulgadas. Elas merecem o nosso reconhecimento e admiração.
Pelo exposto, a representação municipal do Bloco de Esquerda Açores propõe a esta Assembleia Municipal a seguinte recomendação à Câmara Municipal de Ponta Delgada:
- Que a CMPD proceda à recuperação do mencionado jazigo edificado no Cemitério de S. Joaquim, recuperando também a placa identificativa de Alice Moderno e acrescentando o nome de Maria Evelina de Sousa, ajudando deste modo a preservar e dignificar a vontade e a memória destas cidadãs ilustres do concelho de Ponta Delgada.
Fonte: http://acores.bloco.org/noticias/por-proposta-do-be-autarquia-recupera-jazigo-de-alice-moderno-e-maria-evelina-de-sousa-em-h

A militância feminista


Maria Evelina de Sousa foi militante de várias associações defensoras da causa feminista, como a LRMP - Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, tendo sido homenageada por esta instituição em Agosto de 1912, onde discursou na respetiva sessão solene.

No âmbito das iniciativas da LRMP, em 1914, contribuiu para a subscrição a favor da sócia nº 51 daquela associação, Maria Adelaide Ferreira Gonçalves quando esta enviuvou e ficou privada de quaisquer recursos.

Maria Evelina de Sousa também fez parte da Associação de Propaganda Feminista, fundada, em 12 de Maio de 1911, por Ana de Castro Osório, e da Associação Feminina de Propaganda Democrática, criada em 1915 e dissolvida em Junho de 1916, que se identificava com o Partido Democrático e apoiava a ação política de Afonso Costa.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Paisagem

Paisagem

Tarde de junho, serena,
Verde mar, costa formosa;
N’esta paisagem amena,
Florescia linda rosa.

Se por esmola me dera
O seu perfume a aspirar,
De joelhos eu quisera
Os seus espinhos beijar

Correio dos Açores, 1 de janeiro de 1927

Aspiração

Tudo aspira e quer subir;
- A água, ao céu anilado;
Tudo procura atingir
Um fim nobre e sublimado

O fumo, com curvas graciosas,
Ao céu deseja chegar;
Ao mesmo, o aroma das rosas,
Eu ao céu do teu olhar.

“A pátria”, nº18, 10 de março de 1924

Maria Evelina de Sousa condenada ao esquecimento?


Maria Evelina de Sousa condenada ao esquecimento?

Desconhecemos a razão do desprezo a que sido votada, por parte das mais diversas entidades, Maria Evelina de Sousa (1 de janeiro de 1879 – 12 de fevereiro de 1946) que foi uma distinta professora primária e jornalista micaelense. Com efeito, não conhecemos nenhuma rua com o seu nome e não recebeu qualquer “condecoração”, nem mesmo a título póstumo.

Nasceu em Ponta Delgada, cidade onde frequentou a Escola Distrital de Habilitação ao Magistério, tendo concluído o curso em 1900 (?) com a classificação de 17 valores.

A partir de 1904 começou a lecionar na Escola de Santa Clara, tendo, quatro anos mais tarde, em 1908, sido responsável pela criação da primeira biblioteca escolar do círculo, iniciativa muito comentada na sociedade micaelense e na comunicação social da altura.

No âmbito do ensino, Maria Evelina de Sousa, procurou introduzir inovações nos Açores, tendo aprendido o método de leitura e escrita, Método Legográfico-Luazes, com a sua autora, a professora, pedagoga e escritora Maria Amália Luazes, que foi a fundadora do Instituto do Professorado Primário Oficial Português, em 1916. Assim, Maria Evelina de Sousa ofereceu-se para explicar, a título gratuito, o método a todos os professores que o quisessem aprender. Foi, também, por sua iniciativa que se realizou em Ponta Delgada uma conferência de propagando do método de João de Deus.

Em matéria de ensino, ainda durante a monarquia, Maria Evelina de Sousa defendeu que nos estabelecimentos escolares não devia ser permitido o ensino de matéria religiosa, o que veio a acontecer com a implantação da República.

Pouco depois da implantação da República, Maria Evelina de Sousa escreveu uma carta aberta ao Dr. Francisco d’Ataíde Machado de Faria e Maia, presidente da Comissão Administrativa Republicana, onde apresentou um plano de remodelação do ensino primário oficial para a cidade de Ponta Delgada, tendo entre outras medidas defendido a criação de quatro escolas centrais e a criação de uma rede de escolas que deveria incluir “as diferentes associações que, trabalhando isoladamente, têm o mesmo objetivo” e que eram a Associação Século XX, as Comissões de Beneficiência e Ensino e a Associação das Filhas de Maria.

Como jornalista é de destacar a sua colaboração, entre 1904 e 1907, no jornal portuense dedicado aos interesses da instrução e do professorado “O Campeão Escolar” e a fundação e direção e redação da “Revista Pedagógica”, que se apresentava como órgão do professorado oficial açoriano e que, entre 1909 e 1915, esteve ao serviço da educação e dos professores, tendo sido distribuída a nível nacional. Para além de colaborar no jornal “A Folha”, fundado em 1922 pela sua amiga Alice Moderno, foi, a partir de 12 de maio de 1915, secretária de redação daquele jornal e colaboradora do jornal “Correio dos Açores”, onde publicou alguns artigos de opinião e poesia diversa.

Fez parte da comissão organizadora da Escola Industrial de Rendas de Bilros que funcionou em Ponta Delgada sob a regência da professora D. Hortense de Morais.

No âmbito da defesa dos Animais, foi com Alice Moderna uma das principais dinamizadoras da criação da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, em 1911, tendo sido ela a responsável pela redação dos estatutos e mais tarde, criada a associação, assumido vários cargos nos órgãos sociais da mesma.

Foi militante de várias associações defensoras da causa feminista, como a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, tendo sido homenageada por esta instituição em Agosto de 1912, a Associação de Propaganda Feminista, fundada, em 12 de Maio de 1911, por Ana de Castro Osório, e a Associação Feminina de Propaganda Democrática, criada em 1915 e dissolvida em Junho de 1916, que se identificava com o Partido Democrático e apoiava a ação política de Afonso Costa.

Aposentou-se a 13 de Julho de 1940, após trinta e seis anos de bom e efetivo serviço sendo, na altura, professora da Escola Agostinho Machado Bicudo Correia, localizada na freguesia de São Pedro, em Ponta Delgada.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30589, 25 de março de 2015, p.16)